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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Desilusão

Este é um fenômeno exclusivamente humano, desilusão,
ato de desiludir-se, desenganar-se, o que pressupõe que nos
enganamos sobre algo ou alguém, que em um momento
qualquer,  acreditamos.
           Por mais doloroso que possa ser vivenciar a desilusão,
o processo anterior de nos iludirmos é parte da construção
de nossa capacidade de suportar perdas, e de criar
mecanismos que nos sustentem para enfrentá-la.
             Precocemente, “iludimos” os bebês com o bico, da
mamadeira, para que, quando a mãe não possa mais
amamentá-lo, ele tolere a perda do seio, da sua
presença e de seu olhar constante.
             Mais tarde, acrescentamos ao berço, bichinhos de
pelúcia, travesseirinhos com o cheiro materno, proporcionando
a ilusória  presença materna. Muitas crianças, carregam
estes objetos simbólicos que lhes dão segurança e proteção
de certa forma mágicos, por toda a infância, adolescência
e, alguns os guardam até a vida adulta.
            São chamados objetos transicionais, que incluem
parte de nossa fantasia vinculada a realidade, ou seja, nos
dão um caminho sólido para que possamos suportar a
realidade da perda de nossos objetos mais amados.
             É um processo de matriz,  para enfrentarmos  todas
as demais ilusões e desilusões que a vida nos reserva no
desafio do crescimento e desenvolvimento humano.
            Quando adultos e nos apaixonamos por alguém, um
manancial de ilusões, esperanças e expectativas toma
conta de nossa vida. Tantas vezes, se desiludidos, nos
sentimos como bebês a procura do ursinho que vai nos
consolar, acolher nossas lágrimas, acalmar nossa magoada
e sufocada respiração.
           Se temos uma base forte, sobreviveremos. A confiança
básica se manterá sólida, nos dará forças e coragem para
buscar novas ilusões, fantasias, cada vez mais viáveis
e realizáveis. É a aprendizagem pela dor vivenciada, a  
desilusão experimentada, sofrida mas que nos fortalece.
            Esta confiança básica forte, nos permite arriscar,
ousar, ir além da mesmice dos medíocres aos quais falta
coragem para agir com audácia , temem e fogem do
amar pelo simples fato de não sobreviver  a uma possível
desilusão.
            Falo do amar amplo...amigos, colegas, família,
pessoas importantes que nos marcaram , e no
trajeto de nossa história abandonamos ou fomos
abandonados...porque nos desiludimos...porque mudaram
mais do que somos capazes de suportar com nosso egoísta
desejo, de que todos permaneçam do jeito que nos faz
bem, que nos sentimos mais fortes.
           Quantas desilusões já tive, quanta dor
profunda em minha alma machucada, o desfazer de
cada uma delas me fez chorar de dor, decepção,
como se nunca mais um pudesse resgatar um outro amor
dentro de mim.  Eram pessoas que eu amava tanto,
admirava tanto, heróis de gente grande...eram parte de
meu ser, armas de sobrevivência ganhas por
merecimento de um convívio saudável e amoroso.
       Como eu investi ! Nestas pessoas, na ilusão
iluminada que cada uma me ofereceu em todos os
momentos que de mãos dadas sorrimos, ou abraçados,
me senti acolhido e protegido da dor.
       Tempos atrás, eu tinha uma galáxia de estrelas ao
meu redor, era ingênuo, confiante, não havia malícia,
todos me pareciam repletos de um sincero afeto por
mim, me passavam uma energia celestial, que me
impulsionava para o alto, eu confiava profundamente e
cegamente.
       E havia também o grande astro Sol, o maior e
mais iluminado amor deste infinito espaço que é um
coração apaixonado. Era minha luz de todos os caminhos,
espectro convergente de todas os meus desejos
e atenções. Energia eletromagnética que me mantinha
extasiado em sua órbita , que eu acompanhava
incansável e fascinado todos os movimentos,
imantadamente atento a todos os seus desejos.
       Pouco a pouco, os desafios que a vida nos exige,
faz com que tenhamos de enfrentar a verdade, abandonar
a ingenuidade,  não nos dá mais a possibilidade de
enganarmos-no com ursinhos, fantasias e expectativas
inviáveis. Existe espaço para uma única coisa, a
desilusão que denuncia a necessária verdade. Sem ela
não há crescimento ou amadurecimento. Viver só na
fantasia...é um passo para a loucura.
       Por toda esta vida, nos desiludimos com as estrelas
que criamos a nossa volta para amar, com o Sol que
escolhemos para adorar , é a vida vivida
apaixonadamente...Em cada desilusão, nasce a
possibilidade de um amor verdadeiro.

3 comentários:

  1. Lindo! Verdade de muitos! Revelador e um alerta! Ame muito e ame a si mesmo mais ainda! Parabéns César
    Diego (brasília)

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  2. DESILUSÃO A PALAVRA MAIS FÁCIL DE SE DIZER DIANTE DE UMA PERDA. MAS TEMOS DEUS QUE NOS CONFORTA E NOS DA SEGURANÇA PARA SEGUIRMOS EM FRENTE.
    SO ELE PODE COMPREENDER O MEU INTERIOR E AS DORES AFASTAR, SEUS SONHOS REALIZAR . BASTA QUE VC ENTENDA QUE É DEUS QUE TE FAZ ENTENDER TODA POESIA E TORNA MAIS VALIOSA A VIDA. E PROVA QUE AINDA DA PRA SER FELIZ APENAS ATENDA A QUEM CHAMA

    CLEYDYONY

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  3. Simplesmente...Sem Palavras..

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